És muito mais forte do que eu, Sofia.
Soube-o desde aquela tarde de 3 de Janeiro de 2004. Nove luas cheias antes de nasceres. Dez, porque naquele ano Agosto foi um longo mês.
Nesse mesmo dia fui a Almeirim. Olhei a mulher centenária num quintal com terreiro cimentado. E espaço guardado para crescerem três laranjeiras. Alheou-se do bolo com cem velas e das memórias de tempos difíceis de início de século para se debruçar no interior de mim.
E viu-te, tenho a certeza. Olhou-me com uns olhos profundos de quem já viveu mais que um século, de quem conhece os segredos das marés, as luas, a força que exercem sobre as águas e que faz inundar aldeias e secar searas.
Soube-o também no dia em que subi o dique de Valada. E quando tivemos o acidente e aceleramos pulsações e resistimos.
Soube-o agora, mais uma vez. Quando acordaste na maca do hospital e te abraçaste a mim.
Tu acordavas da anestesia. Eu quase adormecia por causa de ver um fio de sangue teu.
E foste muito mais forte do que eu, Sofia. Eu sabia.
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