quinta-feira, 20 de maio de 2010

Notícias

Queridos amigos

Cá vou andando. Muito trabalho, é certo, de tal forma que a minha caixa de correio esgotou. Sou por isso obrigada a ocupar este espaço na blogosfera para vos deixar notícias minhas, farta que estou, ironicamente, de dar notícias dos outros.

É claro que poderia sempre deixar de comer, reduzir as cinco ou seis horas de sono ou, porque não, abdicar desse acto perfeitamente inútil de tomar banho, se bem que pagaria bem caro as consequências e calculo: iria reduzir drasticamente o meu rol de entrevistas a fazer.

A Sofia tem um projecto de vida para mim. Eu não o sigo e provavelmente não sei o que perco.

Diz-me vezes sem conta de que seria melhor deixar o computador e ir trabalhar para o vizinho salão de cabeleireiro. Ela sempre poderia andar por lá, eu estaria mais perto de casa e não me cansaria tanto, imagina a Sofia.

Provavelmente queixar-me-ia então de passar os dias a lavar e cortar cabelos e a saber as novidades da terra e do povo – sendo certo que sem a obrigação de as passar para papel jornal.

Recordaria depois, com nostalgia, nas noites mal dormidas a passar para folhas de Word horas e horas de gravações, a reformular textos e a compor outros tantos.

Comprei um rés-do-chão, t3, num prédio antigo, numa praceta do Cartaxo. Negócio de ocasião anunciado por uma tia minha, espécie de anjo da guarda a vigiar-me à distância.

Temos um pequeno pátio que quero transformar num jardim aconchegador.

A bebericar uma chávena de chá ou a sorver um sumo de laranja, debaixo do meu chapéu-de-sol, conto dar-vos notícias em breve.

Em última instância enviarei recado por um destes pombos atletas que costumam sobrevoar a zona… Estão habituados a percorrer grandes distâncias (é verdade, desde que bem treinados, também para mim foi uma descoberta) e talvez isso seja mais fácil do que gerir uma conta de e-mail.

Um abraço

Desta que é vossa

Com saudades

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Notícias da Sofia, da mamã e da tartaruga

Um dia uma menina chamada Sofia completou cinco anos. E nesse mesmo dia uma fada madrinha, de seu nome Paula, ofereceu à menina uma tartaruga, verde, verdinha cor dos prados no despontar da primavera.

A essa tartaruga, que tinha o hábito de levantar-se do pequeno aquário em forma de coração, decorado com uma palmeira à sua medida, Sofia chamou “Fifi”.

Apenas um dia depois da tartaruga chegar à casa da menina e da mãe, não ainda recuperada do jet leg que foi o transtorno do transporte de uma loja de animais até à dita casa, envolta em papel de embrulho e dentro de um caixote, a menina insistiu em levar a tartaruga a passear até à casa do pai.

No reboliço que foi a viagem – Cartaxo – Azambuja – a tartaruga sofreu de amuos, traumas, medos, enjoos e virou-se de carapaça ao contrário no fundo do aquário assustando a menina que prometeu não mais levar a tartaruga em embalos de viagens “todo o terreno”.

A tartaruga está, desde então e para sempre, na imagem da menina.

E mesmo num dia mais triste quando a mãe, numa crise existencial, pediu à menina desculpas pelo transtorno que é ter a menina que movimentar-se entre duas casas, que no fundo são suas, respondeu, depois de pensar um bocadinho:

“Não faz mal. Sabes, eu sou uma criança. Não sou uma tartaruga”.

Abraçaram-se e dormiram juntas. Mas sem a tartaruga...

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Às vezes sou árvore tranquila

Às vezes sou árvore tranquila
Doce embalo ao sabor do vento
Raízes fecundas, olhar atento

Outras vezes rasgo nuvens
Sou o sol - sobre o mar imenso.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Admiro os apaixonados


Admiro os apaixonados,
Aqueles que na passagem efémera pela palete agridoce da vida
Se entregam, corpo e alma, à desventura de amar.

Admiro ainda mais os vencedores dessa batalha
Que é adormecer, nessa caminhada, o lado obscuro do coração e fazer dele almofada

Que serão os outros? Borboletas multicolores?
Bichos que de tanto amar o amor espantam? Seres de encantar a solidão?
O meu amor terminou, mas não a minha paixão.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A primeira flor

Transplantei a primeira flor
Botão de rosa amargurado
De vermelho pálido pintado

Não procurei chuva de prata
Enterrá-la em vasos de lata?
Mil vezes bocas de leão!

Que hei-de fazer?
Diz-me tu, oh homem que regas!
[E esse segredo carregas]

Bebericam-te as pontas dos dedos
Essas flores viçosas
Como se lhe oferecesses a vida.

Que hei-de fazer?
Se o caule não ficou bem profundo?
Se a raiz solta não a fizer vingar?

Um ramo de gardénias
Te entregarei
A ti que és rei

Enquanto não - parto à procura dos jacintos
Que tingem os rios
Mancha azul num mar de tangos

Transplantei a primeira flor
Roseira brava à procura do amor
Mas não do primeiro.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

'Beija-me como se não houvesse amanhã'

'Beija-me como se não houvesse amanhã'

É um vidro rasgado
na casa de banho em limpeza
de um velho armazém do Chiado.

No dia dos namorados - rosas vermelhas
Na 'down town lisboeta' não escapa nem o forreta.

Não é dia de folga para a Olga,
as tardes são passadas a lavar escadas.

Rosas vermelhas e turistas
E a rapariga passou sem dar nas vistas.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Pensão Rossio Parque

Na Pensão Rossio Parque as escadas são forradas de vermelho cetim.
Rangem ao passar das meias solas do Sr. Joaquim.
Duas estrelas e meia no frontão; um jardim.

Pensão ligeiramente anacrónica, com chuveiro e estores de correr.
Não corre quem não pode. E está trancado no quarto do fundo [um frenesim].

Pequeno-almoço com sumo de laranja amarga.
E um travo a licor beirão
Que traz a inquilina do rés-do-chão.