terça-feira, 21 de outubro de 2008

Lezíria


Um púcaro de café ao lume
Apagado.

Debaixo da ponte
Um queixume.

Ao longe, um ligeiro cheiro a estrume
As couves cavadas.

Ferodo,
Cheiro do caminho-de-ferro em terra.

O ferreiro vem tarde
Tem as mãos calejadas de um espeto de pau.

Ligeiro, o campino
Corre atrás o menino, franzino.

Lezíria, grande
Como a fome dos que a amanharam.

Recuso-me a morrer à secretária

Recuso-me a morrer à secretária
- Vou reduzir substancialmente a minha carga horária

Espreitar-te na janela redonda
Por onde olhas o mar

Os poetas conhecem-se bem
Como os amantes

Navegam nus, intensos, quentes.
Na imensidão das gentes

Às quatro da tarde em ponto
- Vou ao teu encontro

Vais reconhecer o meu lenço
Eu espero, esvoaço e fermento.

domingo, 19 de outubro de 2008

Os Vizinhos

Três homens despidos na varanda
De camisa aberta
As mulheres em parte incerta

Assam febras
Esperam que se ponha a mesa
Falam da presa

Encardem de fumo
A roupa branca
Que a rapariga estendeu de alguidar na anca

A mulher que trabalha na fábrica
Chegou anafada
Mal paga, inconformada

Já deitou a toalha na mesa
Os miúdos nos beliches
Encheu de vinho os copos, preparou “quiches”

Veste a camisola rendada
Preta e ligeiramente desbotada
A marcar a silhueta apertada.

Com elevado teor de álcool na entranha
Um dos homens despidos da varanda
Vai ter com a mulher à cama.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Lição número 1: para a mãe

- Quando cresceres vais para a escola dos meninos grandes.
- Mas eu não quero ir para a escola.
- Não queres aprender a ler?
- Não, quero ser mãe!
- Mas para seres mãe e ajudares o teu filho tens que saber ler. Não queres trabalhar como a mãe?
- Não, porque depois canso-me.