És muito mais forte do que eu, Sofia.
Soube-o desde aquela tarde de 3 de Janeiro de 2004. Nove luas cheias antes de nasceres. Dez, porque naquele ano Agosto foi um longo mês.
Nesse mesmo dia fui a Almeirim. Olhei a mulher centenária num quintal com terreiro cimentado. E espaço guardado para crescerem três laranjeiras. Alheou-se do bolo com cem velas e das memórias de tempos difíceis de início de século para se debruçar no interior de mim.
E viu-te, tenho a certeza. Olhou-me com uns olhos profundos de quem já viveu mais que um século, de quem conhece os segredos das marés, as luas, a força que exercem sobre as águas e que faz inundar aldeias e secar searas.
Soube-o também no dia em que subi o dique de Valada. E quando tivemos o acidente e aceleramos pulsações e resistimos.
Soube-o agora, mais uma vez. Quando acordaste na maca do hospital e te abraçaste a mim.
Tu acordavas da anestesia. Eu quase adormecia por causa de ver um fio de sangue teu.
E foste muito mais forte do que eu, Sofia. Eu sabia.
sábado, 6 de dezembro de 2008
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Assim vou eu
No dia em que o meu patrão confidenciou ao mundo que fazia gazeta no escritório onde trabalhava há 30 anos pediu-me que trabalhasse mais. Foi há um ano.
Na crónica de hoje diz que tem dinheiro. E que por isso lhe custa falar desse material corruptível. Eu não o tenho, mas mesmo assim apetece-me mudar de vida.
Estou indecisa entre candidatar-me a um lugar de secretária num escritório de advogados e mandar um currículo para uma empresa de limpezas industriais.
Quero comprar um terreno no campo. De preferência com uma vereda e um chorão onde no Outono me possa refugiar num manto de folhas secas.
Quero comprar uma casa de madeira com uma parede e tecto de vidro – não me arrependo do que fiz, os erros ensinam a equivocarmo-nos com mais ponderação – e viver num t4 amplo e imperceptível.
Quero acordar de madrugada e ver a erva coberta de geada. Depois de adormecer a olhar a lua. Enevoada, repousando levemente sobre uma nuvem transparente. A esfumaçar. Como quem acaba de fazer amor.
Na crónica de hoje diz que tem dinheiro. E que por isso lhe custa falar desse material corruptível. Eu não o tenho, mas mesmo assim apetece-me mudar de vida.
Estou indecisa entre candidatar-me a um lugar de secretária num escritório de advogados e mandar um currículo para uma empresa de limpezas industriais.
Quero comprar um terreno no campo. De preferência com uma vereda e um chorão onde no Outono me possa refugiar num manto de folhas secas.
Quero comprar uma casa de madeira com uma parede e tecto de vidro – não me arrependo do que fiz, os erros ensinam a equivocarmo-nos com mais ponderação – e viver num t4 amplo e imperceptível.
Quero acordar de madrugada e ver a erva coberta de geada. Depois de adormecer a olhar a lua. Enevoada, repousando levemente sobre uma nuvem transparente. A esfumaçar. Como quem acaba de fazer amor.
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