No dia em que o meu patrão confidenciou ao mundo que fazia gazeta no escritório onde trabalhava há 30 anos pediu-me que trabalhasse mais. Foi há um ano.
Na crónica de hoje diz que tem dinheiro. E que por isso lhe custa falar desse material corruptível. Eu não o tenho, mas mesmo assim apetece-me mudar de vida.
Estou indecisa entre candidatar-me a um lugar de secretária num escritório de advogados e mandar um currículo para uma empresa de limpezas industriais.
Quero comprar um terreno no campo. De preferência com uma vereda e um chorão onde no Outono me possa refugiar num manto de folhas secas.
Quero comprar uma casa de madeira com uma parede e tecto de vidro – não me arrependo do que fiz, os erros ensinam a equivocarmo-nos com mais ponderação – e viver num t4 amplo e imperceptível.
Quero acordar de madrugada e ver a erva coberta de geada. Depois de adormecer a olhar a lua. Enevoada, repousando levemente sobre uma nuvem transparente. A esfumaçar. Como quem acaba de fazer amor.
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